Artificialidade Insípida

Com a explosão da inteligência artificial criaram-se novas problemáticas sobre inovação consciente, quais são os seus riscos e se as suas mais valias se sobrepõem aos danos.

O impacto ambiental causado pela IA e a recolha de dados pessoais indevida não podem ser ignorados e a auto geração de conteúdo é por si outro problema, causando o desaparecimento de oportunidades de emprego.

A inovação tecnológica não se pode sobrepor aos nossos direitos fundamentais, lutar para que esta não viole mas sim promova o nosso bem estar e os nossos direitos é essencial.

O que isto significa para o designer e que postura deve adotar perante estes novos desafios?

  • Regulamentação para um futuro seguro

    É necessário regulamentar as empresas quanto ao gasto de água e a quantidade de CO2 emitido na geração de imagens e na pesquisa feita através de inteligência artificial. Não podemos ignorar o impacto ambiental que a IA tem no nosso planeta.

  • Proteção de dados pessoais

    Nós como indivíduos temos que ter informação sobre que aplicações e websites têm acesso aos nossos dados; como é que se sente um artista, que quer usar estas plataformas para partilhar a sua arte mas no entanto vê-a a ser roubada e copiada por uma máquina? Como agora é tão normalizado as crianças terem estas redes sociais, é muito fácil elas caírem nestas táticas de IA, por isso tem que haver um controlo sobre a recolha que IA pode fazer aos nossos dados, especialmente a menores de idade, e temos que proibir a criação de conteúdo inapropriado sobre os mesmos.

  • Consentimento

    A utilização de inteligência artificial para auto geração de imagens tem levantado questões e preocupações quanto aos nossos direitos e deveres como designers. Num caso comum onde um designer queira apropriar-se de algo que não é da sua autoria tem sempre que ter atenção aos seus direitos de autor. Esta dinâmica tem protegido os direitos dos autores de qualquer tipo de obra evitando o plágio, respeitar e ser respeitado, uma colaboração segura entre criadores, uma comunidade.

    É verdade que o ser humano tem sempre utilizado o outro como referência e inspiração para aprender mas nunca desta maneira tão tosca, desumana e descarada com que a inteligência artificial opera. Quando este processo é feito de uma maneira tão sintética e intencional devemos questionar onde é que os nossos direitos como autores ficam nesta confusão, será que a maneira com que este algoritmo se apropria do nosso trabalho enquanto nos descarta de qualquer crédito e compensação é aceitável?

    Não pode ser permitido usar imagens sem consentimento para alimentar algoritmos de auto geração de imagens especialmente quando estas empresas estão a dissecar-nos e a lucrar connosco enquanto nós perdemos cada vez mais oportunidades de trabalho.

  • Não somos substituíveis

    Não nos podemos deixar indiferentes pelo desaparecimento de oportunidades de emprego. Têm, recentemente, saído inúmeras notícias de layoffs à conta de novos contratos com empresas e laboratórios de pesquisa de ia e deparamos-nos cada vez mais com a utilização de imagens e vídeos auto gerados no nosso dia a dia, isto traduz-se numa maior concentração de poder em grandes empresas.

    O desenvolvimento de tecnologias de IA deve ser usado para o bem do trabalhador e não das grandes empresas, se é uma tecnologia que gasta tantos recursos do nosso planeta e é tão arriscado usá-la se for para o fazer devia ser vinculada ao melhoramento da nossa qualidade de vida e não a precisamente o contrário.

    Temos que questionar e contestar a quem é que isto está a beneficiar e se aceitamos como ia está a ser atualmente usada e se os riscos valem a pena porque não é a nós enquanto criadores nem como consumidores visto que os resultados que a ia tem mostrado têm se revelado no mínimo insípidos. 

  • Não nos cingimos por mediocridade

    A cultura mainstream estar nas mãos de empresários sem nenhuma intenção artística é algo preocupante para os próximos anos, piores filmes, piores anúncios e por outro lado, online, a saturação de imagens sem qualidade e disseminação de desinformação como nunca antes visto vai afetar a cultura visual das próximas gerações, o que não devemos deixar acontecer.

    Não nos podemos deixar desmoralizar porque o que criamos tem valor, é importante lutar pela arte e cultura num tempo tão confuso onde nos é impingida a normalização de media com qualidade horrenda por ser mais barata e rápida (mas nem por isso mais barata ou acessível ao consumidor).

Não podemos deixar que IA continue a tirar o nosso propósito como designers e artistas, é essencial que arte seja feita a partir das nossas experiências e emoções e que consiga provocar as mesmas em quem a vê, e não vomitada por um computador a partir de um monte de frases e imagens tiradas de outros artistas. Devemos como designers apoiar-nos mutuamente de forma a não sermos descartados em troca de uma máquina que não sabe quantos dedos temos nas mãos.

Caldas da Rainha, 19 Novembro 2024
  • Autores

  • Juno Gonçalves
  • Maria Solas